Saber lidar com a dor ajuda doentes a dominar vulnerabilidades
Ensinar um doente com cancro a “manejar” a dor é uma das ferramentas da psicologia oncológica, especialidade considerada “fundamental” para dominar as vulnerabilidades associadas à doença. “É fundamental promover junto do doente um processo de adaptação à doença, para que possa aprender a lidar com ela”, defendeu à Lusa a psicóloga Teresa Ferreira, do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho.
Para a especialista, que participou no 1.º Congresso do Centro de Estudos em Psicologia Oncológica, que decorreu no Porto, o estigma da doença é difícil de ultrapassar nestes doentes vulneráveis, tanto física como psicologicamente. “Há doentes que conseguem, por eles, ultrapassar a situação, mas é importante intervir, para que aprendam a lidar com a doença e com a própria dor”, frisou.
Também o psicólogo Rui Ramos, do Hospital Pedro Hispano, Matosinhos, defendeu que um doente só “é forte” psicologicamente quando tem “competências apreendidas para lidar com a doença”.
Para este especialista, é possível desenvolver competências para que o doente seja capaz de “manejar a sua dor”, quer através de técnicas de relaxamento como através de instrumentos que lhe permitam classificar e quantificar essa dor.
Os dois psicólogos, que abordaram o tema “Intervenções Psicológicas na Dor Oncológica”, salientaram à Lusa que um doente mais activo e mais conhecedor “é capaz de manejar a dor”, ganhando, assim, mais qualidade de vida. “Os doentes que aderem melhor às terapias cognitivas, aos programas, têm mais qualidade de vida”, sustentou Rui Ramos, para quem “a dor é só a ponta de um iceberg”.
Segundo disse, a parte afectiva, a relação dos profissionais com estes doentes, é também fundamental para se aprender a lidar com a doença. “O doente tem de ser visto como um todo”, acrescentou Teresa Ferreira.
Rui Ramos não tem dúvidas em afirmar que um doente apresenta mais queixas quando está só ou não tem uma boa rede de apoio. “Os aspectos da vida social das pessoas podem amplificar a dor”, sublinhou o psicólogo.
Questionados pela Lusa sobre o papel dos “Grupos de Ajuda” a estes doentes, outro dos temas a abordar no seminário, ambos concordaram que é necessário que sejam compostos por pessoas com formação ao nível da psicologia. “Pode por vezes levar os doentes a desenvolver crenças disfuncionais”, disse Teresa Ferreira.
Rui Ramos entende que o apoio dado por grupos de voluntários em que não existam técnicos pode “criar algum efeito maléfico”, designadamente a vitimização. “É preciso que os doentes percebam que são muito mais do que pessoas com cancro. Valem muito mais do que isso e não podem ficar escondidos atrás de rótulos”, concluiu.