Oncologistas admitem melhorias no tratamento
Dois anos após um alerta lançado por oncologistas na Carta de Princípios de Coimbra, especialistas afirmam que já foram dados alguns passos para melhorar a utilização de recursos na luta contra o cancro em Portugal. Em Fevereiro de 2009, a Sociedade Portuguesa de Oncologia e os Colégios de Oncologia e de Radiologia da Ordem dos Médicos fizeram um retrato negativo do tratamento do cancro em Portugal, apontando “desperdício e ineficiência” na utilização dos recursos, falta de profissionais, bem como inexperiência e incapacidade de alguns médicos.
Desde essa altura, “algumas coisas foram acontecendo”, nomeadamente as que “passavam pela organização interna de serviços e dos próprios hospitais”, que em muitos lados foram melhorados, disse o presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia. Contudo, “em termos de políticas mais gerais, nomeadamente a rede de referenciação em oncologia, que existia, mas que não estava na prática no terreno, assim como o célebre documento sobre os requisitos mínimos para a prática da oncologia que se discutiu no início do ano passado, nada disso acabou por acontecer”. “Continuamos sem regras nesse sentido e dependentes daquilo que os profissionais fazem no terreno e que é muito importante que o continuem a fazer”, frisou Ricardo da Luz.
Para o presidente do Colégio de Oncologia, o documento foi um “marco muito importante no panorama oncológico português”. “Fez um diagnóstico muito rigoroso da situação e propôs algumas medidas que julgávamos importantes. O tempo acabou por dar razão e tudo o que se tem sabido desde então tem confirmado o que lá estava escrito”.
O documento acabou por “amadurecer um conjunto de opções”: “De tal maneira que a seguir à carta apareceu o documento ‘Requisito para a prática de oncologia’ que é um avanço conceptual importante em relação ao que estava”, frisou Jorge Espírito Santo.
Por outro lado, frisou, “o novo coordenador [das doenças oncológicas] propõe uma metodologia para construir uma rede de prestação de cuidados que é a que os profissionais defendiam na carta”, frisou.
Em termos práticos “começou a trabalhar-se naquilo pensámos ser o sentido correcto, mas ainda não há resultados”, acrescentou. É fundamental fazer rastreios para detectar precocemente os tumores, mas sobretudo organizar bem o sistema para que o doente tenha “acesso a cuidados especializados em tempo útil e de acordo com a boa prática médica”, defendeu Espírito Santo.
Questionado sobre se os cortes anunciados para a saúde podem pôr em causa o tratamento do cancro, afirmou: “Não sabemos o que vão implicar, mas não contem com o colégio para validar cortes cegos ou feitos de maneira indiscriminada que ponham em causa a qualidade de prestação dos cuidados ao doente”.
Para o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, “alguma coisa mudou” desde há dois anos. Não tínhamos oncologistas médicos e, embora ainda sejam insuficientes, têm vindo a aumentar”. Já a rede de referenciação hospitalar foi “politizada”: “está mal e nunca mais temos a rede”, lamentou Carlos Oliveira.
Alertou ainda que “o cancro não pode ser tratado em qualquer hospital. É preferível um doente deslocar-se 100 quilómetros do que ser tratado no hospital da cidade onde vive” se este não tiver condições para o tratamento do cancro, nomeadamente uma equipa multidisciplinar.